As argumentações de Arthur Schopenhauer em "As
dores do mundo" podem muito bem ser introduzidas por esta resenha
com aquela proposta de Chapolin – falaciosa – diante da dor imediata. É só
recitar para si que a vida: não vai doer.
Schopenhauer informa que nenhum pensamento por mais
nobre que seja nos livrará da experiência desse nosso mundo que não é o melhor dos
mundos. "As moscas nasceram para ser devoradas pelas aranhas." O
ceticismo do autor colide com o otimismo. Há uma lei inexorável que nos retira
do nada para nos impelir no fim de nossas vidas novamente ao nada. Essa lei é
surda, insensível. Tudo é Vontade. O indivíduo está mergulhado em sua
experiência mais real; dor e ilusão.
No tema do amor, o autor expõe que nossa consciência é
ludibriada pelo real motivo da troca de olhar à paixão que comove as entranhas.
Tudo não passa da Vontade se valendo da bestialidade humana para chegar na
verdade desconhecida dos amantes; a espécie quer se garantir. Conscientemente o
amante quer casar com a amada. Contudo, é a Vontade quem dá as cartas. Tudo não
passa de um novo ente, o filho, que está prestes a ser gerado. Casamento é um
tédio. A mulher serve para compensar as insuficiências físicas do homem no
filho que virá. Ela é inferior ao homem.
Em meio esse vale de lágrimas há alguns meios que podem
trazer um certo alívio. É o caso, por exemplo, da arte. A música a maior de
todas. Mas as pinturas e a alta literatura [Goethe e Shakespeare, por exemplo]
também nos livram por um momento do inferno pior do que o de Dante; este mundo.
O amor está ligado a morte. A dor ligada a
satisfação. Não somente a arte pode nos proporcionar condições de aguentar todo
esse pandemônio. Uma vida de ascetismo e piedade pode nos condicionar a
resistir a força cega da Vontade que nos atropela desde a mais tenra idade até
a velhice, momento em que somos hospedeiros de enfermidades e já catingamos a
morte. Quem pode nos ajudar a entender todo esse mar de ilusões e dor é a
filosofia. O hinduísmo e o pensamento
budista também. Até o cristianismo verdadeiro não transviado pelos dogmas da
religião pode trazer condições para que suportemos as dores do mundo. Exemplo
dos monges verdadeiros que largaram o mundo e as tentações com o fim de viverem
no claustro através da pobreza e contemplação mística.
O ceticismo de Schopenhauer é educativo. O mundo não é
só mar de rosas e flores, ele possui sua parte demoníaca. Seria má fé do
filósofo não trouxesse para contrabalançar otimismos ingênuos a verdadeira face
de nossa experiência imediata: a dor.
Paradoxalmente o ceticismo do autor em “As dores do mundo”
traz sim suas consolações.
H. D’A
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