A Brancura de Jon Fosse, uma sugestão ao Nada? (Resenha)

 


A dubiedade no relato do autor norueguês (Nobel, 2023) deixa-nos perplexos (perdidos?). O diálogo (monólogo?) intimista por meio de binômios (escuro/branco; só/acompanhado; voz/silêncio etc.) enlaça o leitor em um labirinto tal qual aquele em que se encontra a voz narrativa. Diálogos que não vão a lugar nenhum (não lugar), movediçam personagem e leitor. Melhor dizendo: o avesso da escuridão é a brancura e vice-versa, como também imensidão. Imensidão a floresta, a cegueira, a brancura (estou me repetindo?). 

Pois bem, o que dizer de uma pessoa que sai sem direção perseguindo apenas a angústia? Que dizer do fim (?) que ele encontra após essa tentativa de fuga? (Fuga do nada). Dante perdeu-se um dia por selvas, valas, labirintos; contudo, com auxílio. João da Cruz cantou em seu poema a noite escura, mas e nosso personagem? Tendemos irremediavelmente ao nada (falando fenomenologicamente)? Isso é algo difícil de concebermos, uma vez que somos. Sim, a gente existe de fato e até escreve romances, como também os lê e escreve resenhas sobre eles. Mesmo assim, tendemos à “invisibilidade” (o não-ser). Porém, antes da dissolução comum a tudo que existe há a longa estrada (durar) e emaranhados caminhos. Nosso personagem não encontra ninguém para acudi-lo, salvo suas vozes (projeções) íntimas: pai e mãe. Em vão, porque não podem acudi-lo. Parece que é assim a vida inteira, não? Falamos, interagimos, comunicamos e apesar disso nos vemos no imenso incomunicável. Da nervura do duplo, o personagem indaga-se: essas aparições são reais? E esses pensamentos? Essas vozes?

A brancura é posta como sugestão ante a tendência comum às coisas, isto é, desaparecer. Nesse ínterim vivemos um eterno pêndulo oscilando entre o melhor que há em nós e o pior. O humano é isso: nem anjo nem demônio. Na aparição do pai lacunar e da mãe sentimos aquele quase, aquele meio caminho que Nietzsche bem lapidou na frase: “Como meu pai já morri, como minha mãe ainda vivo”. E a confabulação segue seu rumo em seus contornos indefinidos: pai e mãe (vivos? Mortos?); a Criatura (Visagem? O Sagrado?); o homem de terno sem rosto (a morte?); o inexplicável repetitivo. Qual o desfecho, pois? O não-destino-das-coisas? (a saber, a não-dissolução dos sistemas, não-desordem, como se as cinzas de uma folha queimada retornassem a ser folha novamente?) parece que Fosse, em sua Brancura, sugere-nos uma união no Totalmente Outro que não o Nada. 


Helder D’Araújo


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