O MUNDO DE SOFIA - RESENHA





O fantástico livro de Jostein Gaarder não é um livro que se apreende num só fôlego. Não é a primeira vez que o leio. É verdade que o livro trata de uma história da filosofia de narrativa agradável para pessoas que desejam conhecer o projeto filosófico de cada grande intelectual do Ocidente.
Mas o mágico livro está para além de ser somente uma aula romanceada da história da intelectualidade humana. Sofia é um belíssimo nome que o autor se vale para enaltecer a mais bela das criações do Criador; a "Sabedoria" [Razão].
Sofia Amudsen, perto de seu aniversário de quinze anos, recebe correspondências com questionamentos nada fáceis de responder.
Quem somos nós? Para um grande filósofo somos "alma". Para outro não passamos de partículas. Um outro; corpo e alma. Mas de onde viemos? Para um, viemos de um mundo anterior deste mundo de sombras. Para outro, viemos a partir de uma vontade divina. Já, outro, diz que a Natureza é a única responsável pela nossa origem. Para onde vamos? Para a desintegração das partículas, diz um. E, outro: para o lugar de origem, o mundo verdadeiro. Mais radical diz alguém: "voltamos à poeira das estrelas". No entanto, essas respostas são somente a síntese do que o professor de Sofia Amudsen há de discorrer. Dos pré-socráticos à filosofia pós-moderna.
O que motiva Alberto Knox? Tirar Sofia Amudsen de uma vida de sombras. Alberto escolhe Sofia com a finalidade de que ela abra os olhos. Mesmo que esse abrir de olhos possa revelar que a realidade pode ser muito, mais muito surpreendente. As aulas e os motivos de Alberto despertam a moça Sofia para questionamentos que chocam sua mãe, amigos e até os professores da escola. É que Alberto não é um professor nos moldes, digamos, tradicional. É um tipo esquisito [um "outsider"]. Não obstante, Sofia confia sua condução "espiritual" a esse intrigante mentor.
O leitor se encontrará absorvido pela magia de Gaarder quando se deparar como uma revelação chocante. Nada do que leu até essa brilhante reviravolta – da revelação – era o que o leitor pensava. Volta a questão: que é real? A partir dessa revelação que o leitor só saberá apreciando o romance, os propósitos da Filosofia vão instigando o leitor. Sofia e Alberto também serão afetados.
Não deixa o romance de cativar o leitor com a brilhante imaginação do autor. Alberto estava certo: não passamos de sombras. Platão sabia disso. Agostinho sabia disso ao comparar o que é temporal ante a Eternidade. Os místicos também tinham suas intuições oceânicas. Os astrônomos que o digam! O leitor se surpreenderá com as percepções da ciência - o resultado de um saber que começou com a Filosofia - quando ler a última lição do livro. Adianto. É a mais poética de todas as lições aprendidas na obra.
Em suma, Gaarder foi muito feliz em fustigar a nossa percepção para uma intrigante pergunta: que é real?
Decida o leitor, portanto.

H.D'A

 


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