“Um sussurro
nas trevas” de H.P. Lovecraft é vertiginoso. Tratar do infinito que há no
espaço sideral, do infinito que abissaliza a alma imprimindo a mudez no
espírito devido à presença impressionante da natureza não é tarefa fácil. Tudo
que há é o espaço. A distância de Plutão que o diga. Mas e se houver
possibilidade de vencer esses espaços abismais? E se uma raça de seres extraterrestres
estiver oculta desde épocas imemoriais observando os humanos? Será possível o
contato? Sem dúvida, se possível for, não é coisa para qualquer humano. Há de
retirar-se para lugares onde a natureza encontra-se em seu estado quase
primevo.
E
assim Wilmarth vai narrando sua experiência com um desses poucos humanos, Henry
Akeley, que se dedicou a pesquisa e por fim ao contato com esses seres que habitam o “último planeta” de nosso
sistema solar.
Wilmarth,
especialista em folclore e mitologia, analisa fenômenos extraordinários que
aconteceram durante uma inundação em Vermont. As pessoas estão convencidas de
que corpos não humanos boiaram na superfície das águas advindas daquele
desastre. O boato chegou a proporções gigantescas. Wilmarth analisa que esse
tipo de delírio se dá devido uma aura de lendas prenhe no inconsciente coletivo
do povo que reside naquelas cercanias há tempos. O debate se torna público.
Akeley lhe escreve cartas com promessas de enviar provas de que o local onde
apareceram boatos de seres rosados que lembram caranguejos é fidedigno. Ele
mesmo tem sido alvo de acirrada disputa por esses seres e humanos infiltrados a
fim de monitorar atividades humanas.
A
narrativa telúrica, ou seja, a presença impressionante do local contribuiu para
criar o ambiente de mistério e medo. O silêncio desse lugar é assustador. Assim
deve ser o espaço sideral. As cavernas sulcadas por onde corre riachos ocultos
aninhando a morada das trevas só pode ser local de habitantes extraterrestres. Que
fazem esses seres? Mineram.
Numa
forma epistolar Akeley informa detalhadamente o que sabe e o que apurou da
realidade dessas criaturas. Estas que já o perseguem. Óbvio que todo esse
contato se torna um desafio ao ceticismo Wilmarth. Mas Akeley possui registros.
Chega o dia em que Akeley se encontrará com seu informante. A essas alturas o
debate público sobre os boatos de possíveis criaturas já caiu no esquecimento.
É melhor assim, aconselha Akeley. Wilmarth está apreensivo e sequioso do
conhecimento adquirido do contato com seres doutro planeta. Mas que é real?
“Um sussurro
nas trevas” de H.P. Lovecraft é uma obra que merece dedicação. Sem dúvida, uma
primeira leitura empolga. Mas o conveniente é seguir “o rastro” da obra a fim
de desvendar o imaginário do autor.
A
editora Hedra merece atenção pelo trabalho de tradução excelente e apresentação
do autor ao público não familiarizado. A mesma possui um acervo de grandes
escritores que vale a pena possuir na biblioteca. Em suma, “Um sussurro nas
trevas” é um livro que não pode ser ignorado.
“Vês a luz que tremeluz longínqua e pequena
lá na escuridão espessa?
Que te abisma? Que te desespera?
Essa luz é um espelho.
Jaz sepulta no espaço.
Vede como és pequeno ! ”
H.D’A. Gama. 04/07/2019
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