Nunca em minha vida
eu tinha me interessado pelos escritos de J.R.R. Tolkien, tampouco pelas
famosas produções cinematográficas de suas obras. Achava tudo muito prolixo,
apesar de gostar de fantasia desde “História sem fim” à “A lenda”. Minha
aproximação com o gênero se deu um pouco por minhas preferências pelos escritos
de C.S.Lewis. Para compensar meu total desinteresse pelo Mago (refiro-me a
Tolkien) resolvi ler sua tradução de Beowulf que muito me impressionou. Mesmo
assim se passou um tempo para eu me debruçar sobre algum clássico do escritor.
Muito bem, esse dia chegou.
Há dois dias me
detive com uma reverência e comoção sobre a leitura de seu “O Hobbit”. Veja
bem, não ter lido o autor não significa que eu não tivesse me inteirado sobre
fábulas e fantasia. Foi o caso de há muito ter lido o trabalho “Era uma vez”
(Mundo Cristão) de Adriana Torquato Resende, devido o ofício que venho
desempenhando, o de escritor. Voltemos ao “O Hobbit”.
Não acredito que essa preciosa obra trate somente de elfos, hobbits, magos, seres das trevas, magias, selvas escuras, anões ou dragões. Trata-se de aventura? Claro! E que aventura! Na verdade, muitas aventuras! Mas se há o dito hermético que diz que tudo que está em cima também está em baixo, uma coisa é certeira na história de Bilbo Bolseiro: “Aquilo que vai deve voltar”. E ele voltou, mas já estava tido como morto pelo seu pequeno povoado. Um Hobbit tem um estilo de vida definido. Não cabe a um Hobbit as experiências que passou! Nem convém. Mas Gandalf está certíssimo em seu palpite sobre a pessoa que os anões precisam para reconquistar seu ouro usurpado por Smaug ser justamente aquela criaturinha menor que um anão e de pés peludos.
Tudo começa com uma batida de porta. Primeiro
uma visita do mago, depois uma festa inesperada e rumo ao
desconhecido. Há duas pessoas, dois eus, morando numa mesma
cabecinha. Até então não havia conflito nenhum, isto é, até o
momento que Gandalf bate na porta do hobbit. Mas o mago está convencido que
está ali presente diante de todos um verdadeiro Gatuno. Sim, um Ladrão. É dos
serviços de um profissional que os anões estão precisando. O lado Bilbo
Bolseiro hobbit se embaraça com tais propostas. Mesmo assim apesar de muita
hesitação esse seu eu desconhecido o leva ao encontro de Trons, Gollum,
Gobelins, lobos, Elfos, Aranhas gigantes, feitiços, cavernas escuras, vida de
gatuno, dragão e guerra. Aventuras perigosas que fizeram vir à tona um Bilbo
diferente.
Com uma pequena
espada “ferroou” aranhas. Com sagacidade driblou um demônio das escuridões.
Sempre tendo sua competência em suspeita por seus amigos definitivamente conseguiu provar não
somente a terceiros mas muito mais a si que era um tremendo Gatuno. O seu lado
pouco conhecido enfim venceu. É essa grande história interior que o Hobbit traz
para o leitor. Uma história de mudança, de transformação, de descoberta. Algo
que ao ver deste escritor transcende aquilo que Lewis não gostava, uma fuga da
realidade. Para uma leitura em busca de mero entretenimento pode ser que os
seres que habitam o mundo pra além da Terra Média satisfaçam. Mas para quem
fizer o que Bilbo fazia bem, olhar atentamente, pode encontrar, sem dúvida, uma mensagem de transformação. Algo que lembra a experiência de alguém que entra
numa universidade, ou conhece uma religião, ou mesmo deixa a religião etc.
Bilbo foi e voltou.
Foi um simples hobbit e voltou totalmente estranho aos seus. Pensaram que era um
impostor, estavam vendendo suas coisas porque deram-no como morto. Seu lado
pacato, fumador de cachimbo e apreciador de uma ótima vida não tinha morrido,
mas, era verdade, Bilbo Bolseiro não era mais o mesmo. Gandalf estava
certo. Ainda bem.
Helder D’Araújo
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